sábado, 1 de junho de 2013

SOMOS O CASAMENTO DA NOITE COM O SANGUE Meu amor, ao fechar esta porta nocturna peço-te, amor, uma viagem por um escuro recinto: fecha os teus sonhos, entra com teu céu nos meus olhos, estende-te no meu sangue como num largo rio. Adeus, adeus, cruel claridade que foi caindo no saco de cada dia do passado, adeus a cada raio de relógio ou laranja, salve, ó sombra, intermitente companheira! Nesta nau ou água ou morte ou nova vida, uma vez mais unidos, adormecidos, ressuscitados, somos o casamento da noite com o sangue. Não sei quem vive ou morre, quem repousa ou desperta, mas é o teu coração que distribui no meu peito os dons da aurora. PABLO NERUDA