TENHO MEDO
Tenho medo. A tarde é cinza e a tristeza
do céu se abre como uma boca de morto.
Tem meu coração um pranto de choro
esquecida no fundo de um palácio deserto.
Tenho medo – e me sinto tão cansado e pequeno
que refloresço a tarde sem meditar nela.
(Em minha cabeça doente não cabe um sonho
assim como no céu não cabe uma estrela.)
Entretanto em meus olhos uma pergunta existe
e há um grito em minha boca que minha boca não grita.
Não há ouvido na terra que ouça minha queixa triste
abandonada no meio da terra infinita!
Morre o universo de uma calma agonia
sem a festa do Sol ou o crepúsculo verde.
Agoniza Saturno como uma pena minha,
a Terra é uma fruta negra que o céu morde.
E pela vastidão do vazio se vão cegas
as nuvens da tarde, como barcas perdidas
que escondem estrelas quebradas em suas bodegas.
E a morte do mundo cai sobre minha vida.
PABLO NERUDA
POEMAS DA ALMA.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
TENHO MEDO
Tenho medo. A tarde é cinza e a tristeza
do céu se abre como uma boca de morto.
Tem meu coração um pranto de choro
esquecida no fundo de um palácio deserto.
Tenho medo – e me sinto tão cansado e pequeno
que refloresço a tarde sem meditar nela.
(Em minha cabeça doente não cabe um sonho
assim como no céu não cabe uma estrela.)
Entretanto em meus olhos uma pergunta existe
e há um grito em minha boca que minha boca não grita.
Não há ouvido na terra que ouça minha queixa triste
abandonada no meio da terra infinita!
Morre o universo de uma calma agonia
sem a festa do Sol ou o crepúsculo verde.
Agoniza Saturno como uma pena minha,
a Terra é uma fruta negra que o céu morde.
E pela vastidão do vazio se vão cegas
as nuvens da tarde, como barcas perdidas
que escondem estrelas quebradas em suas bodegas.
E a morte do mundo cai sobre minha vida.
PABLO NERUDA
POEMAS DA ALMA.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
sonhos do snoopy
Dois amantes felizes fazem um só pão
Dois amantes felizes fazem um só pão,
uma só gota de lua sobre a erva,
deixam andando duas sombras que se juntam,
deixam um único sol vazio numa cama.
De todas as verdades escolheram o dia:
não se atavam com fios, mas com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras.
A alegria é uma torre transparente.
O ar, o vinho, vão com os dois amantes,
a noite dá-lhes as suas pétalas felizes,
têm direito aos cravos que apareçam.
Dois amantes felizes não têm fim nem morte
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.
Pablo Neruda
Dois amantes felizes fazem um só pão,
uma só gota de lua sobre a erva,
deixam andando duas sombras que se juntam,
deixam um único sol vazio numa cama.
De todas as verdades escolheram o dia:
não se atavam com fios, mas com um aroma,
e não despedaçaram a paz nem as palavras.
A alegria é uma torre transparente.
O ar, o vinho, vão com os dois amantes,
a noite dá-lhes as suas pétalas felizes,
têm direito aos cravos que apareçam.
Dois amantes felizes não têm fim nem morte
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.
Pablo Neruda
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