quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

TENHO MEDO Tenho medo. A tarde é cinza e a tristeza do céu se abre como uma boca de morto. Tem meu coração um pranto de choro esquecida no fundo de um palácio deserto. Tenho medo – e me sinto tão cansado e pequeno que refloresço a tarde sem meditar nela. (Em minha cabeça doente não cabe um sonho assim como no céu não cabe uma estrela.) Entretanto em meus olhos uma pergunta existe e há um grito em minha boca que minha boca não grita. Não há ouvido na terra que ouça minha queixa triste abandonada no meio da terra infinita! Morre o universo de uma calma agonia sem a festa do Sol ou o crepúsculo verde. Agoniza Saturno como uma pena minha, a Terra é uma fruta negra que o céu morde. E pela vastidão do vazio se vão cegas as nuvens da tarde, como barcas perdidas que escondem estrelas quebradas em suas bodegas. E a morte do mundo cai sobre minha vida. PABLO NERUDA POEMAS DA ALMA.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

sonhos do snoopy

Dois amantes felizes fazem um só pão


Dois amantes felizes fazem um só pão,

uma só gota de lua sobre a erva,

deixam andando duas sombras que se juntam,

deixam um único sol vazio numa cama.



De todas as verdades escolheram o dia:

não se atavam com fios, mas com um aroma,

e não despedaçaram a paz nem as palavras.

A alegria é uma torre transparente.



O ar, o vinho, vão com os dois amantes,

a noite dá-lhes as suas pétalas felizes,

têm direito aos cravos que apareçam.



Dois amantes felizes não têm fim nem morte

nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,

são eternos como é a natureza.



Pablo Neruda